terça-feira, 13 de junho de 2017

Um passo para trás e dois para frente

Aviso: escrevi esse POST num stream of consciousness, nao cheguei a revisar, muito menos editar.
Boa leitura.

Quando eu era criança, todo mundo acreditava que eu seria um engenheiro. Eu amava matemática, fui medalhista numa olimpíada estadual e cheguei a ir para a segunda fase da então existente  OBM (o Lula transformou ela em olimpíada de matemática das escolas públicas).
Enfim, o post não é sobre minha vida, mas sim sobre aprendizado. Como dito antes, eu amava números e tentava me desafiar estudando física em livros de graduação. O do Moysés Nussenswagen(não consigo​soletrar aquele nome) era um particularmente ininteligível - e foi assim que descobri que física só se aprende de verdade sob um sólido alicerce matemático, que eu não tinha.
Ainda sim, procurei me iludir um pouco com as Feynman’s lectures (que alguns anos depois seriam traduzidas), até perceber que embora entender conceitos seja algo imprescindível, sem matemática a física não se basta.
E, infelizmente, matemática não é como disciplinas como gramática, geografia, sociologia. Matemática não se aprende, matemática se vive. A aquisição de conhecimentos se dá não pela contemplação de aulas teóricas, mas antes pela própria prática, via de regra, exercícios.
A matemática se assemelha com xadrez neste ponto: a prática é imprescindível, mas sem um estudo por fora o praticante irá se estagnar.

Contudo, a matemática pode ser vista também como uma grande construção. Sem seus alicerces, a aritmética, geometria euclidiana, álgebra básica, entre outros, o grande palácio matemático não se sustenta. Dentro dele, com bases sólidas, existem muitas estruturas semindependentes, de modo que aventureiros conseguem alcançar o topo da torre do cálculo sem dar a mínima para outros setores.
Todavia, vez por outra aventureiros se arriscam na escalada desta torre sem saber das bases do belo palácio.
Eu me lembro na minha faculdade colegas na mesa ao lado se queixando de cálculo I, momento que eu indagava a mim mesmo da qualidade do ensino de funções e álgebra àqueles alunos no ensino básico.

Este que vos fala também teve semelhante experiência. Após um semestre sabático fora da faculdade, voltei para estudar com foco em concursos da área da advocacia pública (“vou ser PGE em 2015”...como eu era tolo). Na minha leiga opinião, comecei lendo um livro  base  da difícil disciplina: Teoria Geral do Processo do Prof Marinoni.
Esse livro é excepcional, formou meu feijão com arroz intelectual… mas simplesmente não era adequado para a faculdade. Precisava de um livro que me ensinasse o processo, e não uma análise crítica do processo. Optei então por comprar o livro do Daniel Neves, um tijolaço que promete ensinar processo civil em um único volume.
E eu garanto… eu li aquele livro… reli.. ele chegou a perder a capa e a lombada, que preguei de volta com durex... Carregava meu Frankstein literário embaixo do braço, é uma caneta atrás das orelhas para eventuais anotações (isso não fazia sucesso algum com as mulheres).
E, então, 2015 aconteceu.
O CPC antigo já não existia, o novo era recém nascido.
Muitos ficaram desesperados. Não eu. Aquela altura já tinha 2 artigos publicados em processo civil e sequer tinha lido o CPC 15… evitei propositalmente isso.
Inclusive, nesse meio termo passei no concurso onde hoje exerço meu cargo (gabaritei processo civil)
Preferi usar a lição aprendida… back to basics... é melhor se ater aos básicos primeiro e depois dar passos mais altos.

Alguns se perguntam: qual a relação disso com investimentos?

A resposta é simples, boa parte da blogosfera ignora vários conceitos básicos de finanças ex: como calcular a tx de juro real(não é só subtrair a inflação da tx nominal!!); O que é fluxo de caixa descontado; etc…
Isso é algo perfeitamente normal, mas precisa ser sanado. Para tanto, vou tentar aplicar a didática Feynman em posts sucintos sobre temas do tipo “como calcular a tx de juro real”. Não apenas lançar uma equação bem simples por sinal, mas entender o porquê dela.
Claro que não faço isso por altruísmo, na verdade vou revisitar conceitos antigos que exigiam um reforço.

Até porque a lógica é essa: o castelo de finanças é magnífico, mas para entende-lo é imprescindível saber os caminhos do calabouço sob o qual ele se ergue.
Em outro post falarei de dicas de bibliografia.
Abracos

quinta-feira, 8 de junho de 2017

[Rapidinha] Value and Growth Investing

Olá a todos

Um dos temas que mais ocupa meus pensamentos no que toca o mundo financeiro é o debate acerca da Efficient Market Hypothesis (EMH). Infelizmente, não tenho conhecimentos suficientes para discutir o assunto, tal qual os colegas Soulsurfer e Dimarcinho já fizeram em inúmeras ocasiões. Pelo contrário, ainda estou estudando o tema, não sei até que ponto posso  dar opiniões válidas sobre isso. 

De qualquer forma, compartilho com vocês uma leitura que trata tangencialmente (e é bom frisar o tangencialmente) do debate entre "value investing" e a EMH: uma revisão de literatura entitulada Value and Growth Investing: Review and Update, publicada em 2004.

Como um bônus, vou desenterrar duas antigas pérolas da blogosfera: um post do Soulsurfer sobre o P/E e um post do Dimarcinho que trata, dentre outras coisas, dessa discussão em torno da EMH (a discussão nos comentários é tão boa quanto o texto em si).

Vou tentar trabalhar o tema em reflexões futuras, peço gentilmente recomendações de leitura sobre o tema aos colegas que compartilham este interesse.

Muito obrigado!

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Algumas reflexões sobre concursos públicos

O funcionalismo público é um tema  controvertido na blogosfera financeira. Longe de ser um exagero, entendo e até certo ponto concordo com aqueles que criticam os altos salários e baixo nível de qualidade dos serviços de uma parcela razoável do funcionalismo público de modo geral, bem como os impactos de uma folha de pagamento inchada nas finanças públicas.

Eu pretendo ainda tratar dessas questões mais polêmicas aqui no meu blog, mas não agora. Como bem revela o nome do tópico, vou tratar de concursos públicos. Resolvi escrever sobre o assunto devido aos posts do Microinvestidor, que está nesta trajetória de estudos.

Como uma vez disse o Procurador da República Edilson Vitorelli (o blog dele é uma ótima referência de leitura, ressalte-se), nos últimos anos os concursos públicos se tornaram uma corrida do ouro onde, como sempre, aqueles que vendem as pás lucram muito mais que os que cavam atrás do ouro. Não faltam cursinhos, livros e coaches que prometem o êxito em concursos públicos, nem sempre com honestidade. É preciso frisar bem essa triste verdade: a industria do concurso é financiada não por aqueles que alcançam os seus objetivos, mas pela grande massa de pessoas que fracassam. Neste contexto, a venda de sonhos as vezes mascara algumas realidades.


Por isso, vou evitar aprofundar em coisas já batidas e tratar (muito brevemente) de dois aspectos desta jornada pouco tratados em textos que leio internet afora.

Se você não sabe onde quer ir, qualquer caminho serve
Fonte: http://cinemascope.com.br/colunas/rosebud/alice-no-pais-das-maravilhas/

Esse é um erro comum em pessoas que “querem passar em concurso”.  Na busca por dinheiro e estabilidade, alguns atiram para todo lado, um dia estudam para o Banco do Brasil, no outro para o Itamaraty, sem qualquer foco. Se por um lado isso é uma receita perfeita para uma potencial frustração num eventual êxito (falarei disso mais adiante), por outro é, por mais das vezes, um caminho certo para o fracasso. Afinal, carreiras diferentes tem perfis diferentes, o que reflete na própria dinâmica dos concursos.

Por exemplo,acredito ser plenamente possível estudar ao mesmo tempo para a Magistratura Estadual e para o Ministério Público Estadual – há uma sobreposição de matérias bem nítida nos concursos destas carreiras. Por outro lado, é inviável (mas não impossível) estudar para os Ministérios Públicos Estaduais e o do Trabalho – este último tem características próprias que o afasta dos congêneres estaduais.

Ainda utilizando o exemplo dos MP, carreiras estaduais distintas podem demandar perfis distintos – o MP/SP geralmente tem provas mais tradicionalistas, ao passo que o MP/MG costuma trazer “inovações” (frequentemente criticadas) e o MPF, ao menos na época em que o ex-subprocurador da República Eugênio Aragão fazia parte da banca, exigia um conhecimento aprofundado em Direito Internacional, pouco (ou sequer) exigido em outros concursos.

No nível do funcionalismo de “médio nível”, essa característica se revela especialmente no rol de matérias cobradas e da banca escolhida. Cargos de analista em TRFs geralmente exigem um conhecimento sólido do “feijão com arroz” jurídico, ao passo que TRTs e TREs necessitam de um aprofundamento em suas respectivas áreas de atuação. Conhecer direito penal militar e processual penal militar pode separar quem passa e quem não passa no MPU, concurso que geralmente tem uma mínima diferença de pontuação entre os colocados.

Saber não apenas como, mas principalmente o que estudar, é essencial - e isso perpassa a escolha da carreira desejada.

Cuidado com o que deseja
Fonte:http://www.oantagonista.com/posts/vargas-llosa-e-um-milagre-moro-ainda-estar-vivo

No curso de direito, confesso que sempre achei um pouco de graça naqueles que enxiam o peito para falar que iriam ser “juízes, ops, Magistrados Federais”. Por óbvio, a Magistratura Federal é uma carreira muito bonita, e seus integrantes via de regra trabalham com uma infra-estrutura muito melhor que seus colegas  da Justiça Estadual (embora em regra ganhem menos que estes).

Contudo, qualquer pessoa que tem o mínimo de contato com a Justiça Federal sabe que boa parte do volume deste importante setor do Poder Judiciário concentra-se em Execuções Fiscais e questões previdenciárias. Na minha curta trajetória de vida,conheci muita gente apaixonada por direito penal, ou a área de família, mas ainda não tive a oportunidade de ter contato com alguém que batesse no peito para falar “eu amo previdenciário”!

O que leva alguém a sonhar com essa carreira então?

Adoraria dizer que é o sonho por  seguir os passos de vultos como Vladimir Passos de Freitas, Teori Zavascki e Leandro Paulsen, que tiveram (ou ainda tem) carreiras belíssimas na Magistratura Federal e fora dela, mas infelizmente não é essa a regra.

O status (até mais que o dinheiro) é o que alimenta o sonho de muitos, o que é uma lástima tanto do ponto de vista coletivo (pela atração de pessoas que não tem o perfil da carreira), mas especialmente do ponto de vista individual. As vezes as coisas não funcionam muito bem da forma que imaginamos, e se por um lado alguém pode falar que adoraria ser infeliz ganhando o salário de Juiz Federal, a maioria das pessoas que sofrem desse tipo de equívoco e alcançam êxito em algum concurso acabam presas a carreiras infelizes no funcionalismo de médio e baixo nível salarial.


Não posso, e nem devo, julgar as motivações de quem se aventura na busca por uma carreira pública, em especial uma carreira de "alto gabarito". Contudo, as escolhas que fazemos causam impacto não apenas em nós, mas naqueles que nos cercam. Uma mera ação previdenciária enfiada numa pilha de processos numa secretaria de vara pode ser apenas mais um processo banal e repetitivo para o julgador, mas provavelmente é a ação da vida do autor. Acredite, em 90% dos casos (ou até mais) o resultado daquela causa vai ditar a vida que um idoso vai ter nos próximos anos.


Por outro lado, existem coisas que o dinheiro não compra: salvar a vida  de uma pessoa acidentada, conseguir uma vaga na UTI para o pai de família que infartou, impedir um possível assassinato, dar o mínimo de instrução a uma criança desamparada, são coisas que o serviço público não apenas permite, mas paga, para um servidor fazer. É claro que isso é uma romantização da atividade, mas não se pode  esquecer que servidor deriva da palavra servir.

Essa belíssima música do Raul retrata bem o que eu estou falando:


Muito obrigado!

PS: Peço desculpas por me afastar do tema "investimentos". Retornarei a temática nas próximas postagens.

sábado, 3 de junho de 2017

A reflexibilidade no mercado financeiro (Parte 1): O princípio da falibilidade

Olá a todos,

Como texto de “estréia”, irei tratar da noção de reflexibilidade aplicada aos investimentos. O tema já foi trabalhado por George Soros  num artigo escrito no FinancialTimes há quase uma década, mas não me fiarei exclusivamente a ele.

Primeiramente, antes de discutir a questão financeira propriamente dita, devo ressaltar que a noção de reflexibilidade foi tomada por Soros do pensamento de seu orientador de doutorado, Karl Popper. Creio que Popper mereça um (ou melhor, vários) textos focados em seu pensamento e, evitando ser pernóstico, indico os interessados assistirem os 6 blocos de entrevista daquele pensador no programa Uncertain Truth, no fim dos anos 80 (nos quais dois tiveram como entrevistador John Eccles, prêmio Nobel de Medicina em 1963) .

Popper teve uma  formação e carreira multidisciplinar – abandonou os estudos no final do ensino médio, ingressou na faculdade após fazer a “Matura” já na casa dos vinte anos (algo como fazer uma prova  do supletivo), doutorou-se num programa de pesquisa em Psicologia, escreveu uma obra prima na área  da Filosofia da Ciência para conseguir fugir da Austria no período nazista, conseguindo uma vaga de professor numa faculdade no interior da Nova Zelândia, onde escreveu  a obra de Filosofia Política que o tornou famoso – os dois volumes de The Open Society and its Enemies. Após a guerra, se tornou professor na London School of Economics (a qual teve Soros como aluno). A autobiografia intelectual dele, Unended Quest, é um livro que vale a pena ler.

Fonte:http://funkman.org/animal/bird/blackswan.html
Qualquer análise, feita por quem quer  que seja, é parcial – quer por não abarcar a infinitude de inputs possíveis, incluidas externalidades, quer por sofrer influencia  das concepções prévias do  intérprete. Assim, como um critério de delimitação do caráter científico de uma dada teoria, a verificação destas em todos os testes e experimentos não é um critério adequado, mas sim a sua abertura para o falseamento – assim, a afirmação “todos os cisnes são brancos” cai por terra com a observação de um único cisne negro (Taleb tomou emprestado a metáfora do cisne negro de Popper (nunca li o livro do financista, mas conheço bem o pensamento do filósofo austríaco).

Contudo, não quero tratar do espinhoso tema  da delimitação da ciência. Na verdade, preciso ressaltar que, sobre tudo, o verificacionismo lugar-comum induz facilmente o analista ao “efeito édipo” (como demonstrarei adiante) com a criação de profecias autorealizadas. Num ponto de vista mais amplo, tal efeito também influencia o comportamento da bolsa, uma vez que há uma assimetria no conhecimento dos players do mercado, o que reflete no comportamento deste no próprio mercado, influenciando o comportamento do próprio mercado– tema que, embora interessante, não será tratado neste texto, mas no próximo (acerca da noção de reflexibilidade propriamente dita). Por ora, procuro  aqui tratar dos efeitos do ponto de vista parcial de um dado agente nas escolhas feitas por ele na alocação de seu capital.

Para tanto, já sintetizo meuraciocínio num axioma:

Nenhuma forma de valuation vai assegurar um dado resultado futuro, muito menos determinar o preço justo exato de uma ação.

Com efeito,  possível dizer que a “observação dos fatos” feita por um investidor não é apenas uma mera recepção de dados, mas uma interpretação de uma parcela dos fatos à luz de concepções prévias, da mesma maneira que Popper equiparava “observações clínicas” à “interpretações” feitas com base na teoria do pesquisador – em suma, aquilo que Popper chamava de “efeito Édipo”.

Neste contexto, tratar de “valor intrínseco” de uma dada ação torna-se não apenas um juízo de certeza, com base nos seus dados, mas um ato de fé – fé que os fatores intangíveis empregados numa dada análise se concretizem no futuro, bem como não apareça um cisne negro pela frente.

Fonte:http://sorisomail.com/nadata,4,2,2012,julias,1,1/1-id-desc.html
Em outras palavras, não há uma dualidade entre Sr. Mercado razoavelmente  irracional oferecendo cifras diversas por uma determinada ação versus um investidor prudente que sabe o “valor intrínseco” dela. Pelo contrário, há um resultado de um agregado de pontos de vistas parciais sobre o valor de uma determinada ação que pode se contrastar ou não com o ponto de vista (igualmente parcial) do investidor – a interação entre estes pontos de vista parciais será tratada por outro texto, focado no “princípio da reflexibilidade”.
Dito isso, não é por outro motivo que Damodaran adverte que há uma “margem de erro” em qualquer  tipo  de valuation (não vou citar aqui por estar falando de cabeça, mas quem conhece sabe). Por certo, empresas sólidas e saudáveis tendem a (mas não necessariamente vão) continuar existindo e gerando valor aos acionistas, independentemente de distorções nos preços de suas cotas no curto prazo – uma vez que a solidez passada não necessariamente implica numa solidez futura.

Afinal, nem os ditos retornos esperados (expected returns), tampouco os riscos futuros são diretamente aferíveis – tal aferição é possível tão somente com os retornos e riscos já realizados. Neste contexto, fazer uma avaliação de um investimento se assemelha com dirigir um carro estrada a frente se guiando tão somente pelo retrovisor – ou seja, a análise dos retornos esperados se pauta preemptoriamente pela interpretação de uma restrita base de dados passados extrapolados (de diversas formas) pelo investidor para  o futuro.


Fonte:http://steeritedrivingschool.com/importance-of-the-side-mirror/

Aos colegas da blogosfera, trarei um exemplo conhecido: o all-in do Pobretão numa empresa do ramo elétrico.

Àqueles que não tiveram a oportunidade de conhecer seu  finado (e polêmico) blog, o Pobreta, em algum ponto de 2011-2012 (não me lembro ao certo), optou por investir praticamente todo seu patrimônio na referida empresa, com base nas vultosas distribuições de dividendos então existentes, bem como na possibilidade de um reajuste benéfico das tarifas desta nos anos seguintes.

Em suma, o célebre blogueiro, após olhar no seu retrovisor uma série de dados benéficos, seguiu  em frente na estrada dos investimentos. Contudo, apesar de ter traçado um retorno esperado com base em dados concretos,a sua frente apareceram alguns cisnes negros (e outros bem branquinhos e comuns, para ser sincero), sendo os principais: a política econômica dos anos seguintes, que desfavoreceu o setor elétrico; algumas questões  de gestão da própria empresa; a crise economica iniciada em 2014.

Por fim, após alguns anos, o Pobreta liquidou os investimentos naquela empresa e aportou em outras opções mais conservadoras.

Antes de mais nada, devo frisar sobretudo que não quero de maneira alguma denegrir a imagem deste blogueiro (se o mesmo se sentir assim, por favor comente com seu perfil neste post que retirarei as menções feitas), mas, pelo contrário, utilizar a experiência que ele mesmo compartilhou para evidenciar a ideia de falibilidade.

Em que pese as críticas, o referido investidor teve base em uma série de dados relativamente sólidos. Inclusive, na época, vários outros blogueiros tinham o tido ganso dos ovos de ouro em suas carteiras, analistas comentavam sobre ela internet afora (e até mesmo no You Tube). Ela não era exatamente um mico. Contudo, como apregoa a ideia  de falibilidade,o ponto de vista dele era fragmentado, ignorando fatores que já existiam a época (riscos do setor e do cenário econômico) e a possibilidade de uma ave com lustrosa penagem negra aparecer no seu caminho.

Fonte: http://autos.culturamix.com/marcas/chevrolet/camaro-amarelo-historia-informacoes-e-qualidade
O tempo passou,e os aportes na empresa aumentaram, numa suposta concretização da profecia autorealizada (a cotação vai cair para depois subir com o aumento da receita e recuperação da empresa). Hoje, o resultado é conhecido.

Novamente preciso frisar que não quero de maneira alguma denegrir o autor do blog - que sem sombra de dúvidas ajudou a unir a blogosfera financeira há alguns anos – mas sim mostrar que a sua jornada pode servir como uma cautionary tale.

Contudo, em que pese o exemplo ser conhecido, ainda vejo profecias autorealizadas blogosfera afora, em casos como: “A ação caiu, vou baixar o preço médio”... “A ação subiu, o mercado já está fazendo a correção para o preço justo”... “A FII está sendo negociada abaixo do valor patrimonial”.... “Vou comprar vacância”..... enfim, frases comuns na blogosfera financeira que por si só, não significam nada senão  um efeito édipo operando (e não, o sucesso eventual destas práticas não prova nada).

Eu adoraria dar exemplos aqui  de profecias passadas e presentes que existem ou já  existiram no mercado financeiro, mas infelizmente não tenho certificação para tanto. De qualquer forma, no próximo texto tratarei do ponto realmente interessante para os investidores: o efeito Édipo nos mercados financeiros, ou, como Soros denominou, o princípio da reflexibilidade.

Muito obrigado.